Ricardo Leandro Cazes.
Doutor em Medicina Veterinária.


Existem pelo menos 15 elementos minerais considerados essenciais para ovinos. Para um mineral ser considerado essencial não é necessário que o animal apresente problemas de saúde ou mudanças de aspecto. Basta que exista uma diminuição do desempenho pela sua ausência na dieta. Sete destes são macroelementos e oito são microelementos minerais, embora outros minerais possam entrar futuramente na lista.

Tabela 1: Minerais essenciais para ovinos

Macroelementos

Microelementos

CálcioCa

Cobalto Co

Cloro Cl

CobreCu

Enxofre S

Ferro Fe

Fósforo P

Iodo I

Magnésio Mg

Manganês Mn

Potássio K

MolibdênioMo

SódioNa

SelênioSe

 

ZincoZn

Fonte: NRC (1985)

Os minerais que podem apresentar-se deficientes para ovinos em pastejo são fósforo/P, Sódio/Na, Cobre/Cu, Cobalto/Co, Zinco/Zn, Iodo/I, Selênio/Se. O Ferro/Fe e o Manganês/Mn de forma remota podem estar deficientes em pastejo. Com freqüência, Fe e Mn estão nos pastos em tal concentração que podem causar problemas, muito mais pelo excesso do quepelasuafalta.

Os desequilíbrios minerais diminuem o desempenho produtivo e reprodutivo, retardam o crescimento e diminuem a imunidade e resistência aos agentes patógenos aumentando a taxa de mortalidade. A deficiência poderá estar avançada quando os animais apresentarem sintomas clínicos. Deficiências e desequilíbrios minerais estão bem documentados em bovinos, o mesmo não acontece em ovinos, onde o número de informações é muito menor.

Funções dos Minerais

Para efeitos didáticos,podemos considerartrês asprincipais funções dos minerais:

  • Como componente estrutural de órgãos e tecidos do corpo. O tecido ósseo contemC/alcio/Ca, P, Magnésio/Mg,Flúor/F, a proteínamuscular contém P e S;
  • Como componentes de fluidos intra e extracelulares, no equilíbrio eletrolitico e ácido base.
  • Como componente estrutural de metaloenzimas de hormônios e vitaminas, e como co-fatores ou ativadores desistemas enzimáticos.

Requerimento de Minerais

Existem diversosfatores que afetam o requerimento mineral:

  • As exigências minerais são influenciadas pela raça animal, e intensidade ou taxa de produção;
  • Pelas condições de ambiente, pelaadaptação animal (estresse);
  • Em função da idade e peso dos ovinos, da categoria animal: crescimento, reprodução e engorda;
  • Pela forma química e nível dos elementos no alimento, e inter-relação com outros nutrientes, etc.

O requerimento mineral depende em essência da intensidade de produção. Quando os níveis produtivos são baixos as deficiências de minerais marginais não se manifestam. Elas tornam-se severas e com sinais clínicos característicos, quando se aumenta o nível de produção.

Este critério de adequação pode ser melhor compreendido se considerarmos que as necessidades de Zinco de um carneiro paraespermatogênese e desenvolvimento testicular são superiores que para crescimento (Underwood, 1981). Requerimentosminerais de ovinos têm suas basessugeridas pela National Research Council - NRC (1985) as quais, quando possuem suficientes dadossão calculados mediante o método fatorial baseado naarmazenagem e excreçãodos elementos durantea gestação, lactação, crescimento e engorda, considerando-se as perdas endógenas. O requerimento de nutrientes tem como base técnica diversos experimentos de campo considerando como objetivo principal: o desempenho, e também o aspecto de saúde dos ovinos para a qual as necessidades são maiores (Herd, 1997)

Exigências para Ovinos

Elementos Minerais

Requerimento Tolerado

Nível Máximo

Macroelementos(% da MS)

Intervalo

 

Cálcio

0.20-0.82

 

Fósforo

0.16-0.38

 

Magnésio

0.12-0.18

0,5

Enxofre

0.14-0.26

0,4

Sódio

0.09-0.18

< 1.8

Potássio

0.50-0.80

0.3

Microelemento (mg/kg/MS

 

 

Iodo

0.100.80a

50

Ferro

30-50

500

Cobre

7-11b

25c

Molibdênio

0,5

10c

Cobalto

0.10-0.20

10

Manganês

20-40

1000

Zinco

20-33

750

Selênio

0.10-0.20

2

Fonte: NRC (1985)

a Níveis poderão ser superiores para gestação e lactação caso exista consumo de antitiroideanos.
b Requerimentos para dieta com Mo <1mg/kg MS.
c Concentrações menores podem ser tóxicas sob condições especiais.

Concentração Mineral de algumas Forrageiras

As pastagens brasileiras apresentam concentrações de alguns minerais abaixo das recomendações, em parte ou durante todo o ano.

Gramíneas

g/kg

mg/kg

 

P K Ca Mg S

Na Fe Mn Zn Cu

Tanzânia

1,44 14,1 2,68 2,38 1,22

6485 100 15 6

Tobiatã

1,51 13,7 3,602,851,35

59 93 164 17 6

BRA-0077102

1,10 13,3 3,33 2,13 1,32

170205 96 15 5


Fonte:
Euclides (1995)

Concentraçãomédiademineraisempastagem,emdiferentesépocasdoano.
Época de amostragem

Elemento

Set/80

Nov/80

Mar/81

P%

0,058

0,11

0,099

K %

0,38

1,13

0,26

Na %

0,0026

0,0077

-----

Fe mg/kg

587

197

90

Mn mg/kg

157

151

147

Zn mg/kg

3,18

4,74

4,59

Cu mg/kg

1,85

2,20

4,59

Fonte: Souza (1986)


As maiores deficiênciasexistentesnas pastagens, eque mais podem afetar os requerimentos de ovinos são a de fósforo e sódio, especialmente nas forrageiras tropicais.

As deficiências que tem gerado mais polemica são: Cobre e os minerais com ele interrelacionados: Enxofre e Molibdênio.

Enxofre

O Enxofre é essencial na síntese e metabolismo de proteínaspor ser um componente dos aminoácidos metionina e cistina. É essencial também no metabolismo dos carboidratos e lipídeos, na coagulação do sangue, na função endócrina e no balanço ácido-base do meio interno.

Necessidades de Enxofre na matéria seca recomendadas pelo NRC (1985) são de 0,14 a 0,18 % para ovelhas, e de 0,18 a 0,26 para cordeiros. Estes requerimentos poderão ser superiores, especialmente para animais em pastejo, ou consumindodietas a base de celulose, porque os requerimento para digestão da celulose são maiores que para a digestão do amido (Mc Dowell, 1985).

A resposta a suplementação de Enxofre está relacionada a um incremento no número de microorganismos da flora ruminal.

Influencia da suplementação com enxofre na forma de Na2SO4 na digestibilidade “in vitro” das frações fibrosas.

 

Enxofre (%)

Componente Celulose

Digestibilidade (%)

Dieta Purificada

0,08

celoluse

37

 

0,13

celoluse

56

 

0,18

celoluse

73

 

0,23

celoluse

82

 

0,33

celoluse

83

Milho (planta inteira)

0,07

FDA

44

 

0,12

FDA

47

 

0,17

FDA

52

 

0,23

FDA

54

Fonte: Barton (1971)

Segundo estes trabalhos é possível que o limite superior recomendado pela NRC (1985) estejam mais próximos de atender as necessidades de Enxofre de ovinos, especialmente aqueles em criação intensiva.

Outro exemplo realizado em ovinos também mostra que teores de Enxofre em torno de0,20 - 0,25 % parecem bastante adequados.

Influencia da adição de Enxofre na digestão ruminal da fibra em ovinos alimentados com Festuca.

Dieta

Enxofre (%)

Digestibilidade

 

 

FDN FDA

Controle

0,20

56 52

Enxofre elementar

0,25

6055

Enxofre elementar

0,35

6257

Fonte: Spears (1978)

Como guia tem sido utilizado em bovinos uma relação Nitrogênio : Enxofre ( N:S )entre 12:1 a 14:1, especialmente quando se usa uma fonte de nitrogênio não protéico.

Em alguns casos, relações mais estreitas tem dado melhoria na utilização do nitrogênio, quando considerada amedida da redução de amônia a nível do rúmen (Moir, 1970). Em ovinos a recomendação é de uma relação Nitrogênio : Enxofre ( N:S ) de 10:1 (NRC, 1985)

Para manter esta relação a dieta deveria conter as seguintes concentrações:

Conteúdo de enxofre na dieta para manter uma relação Nitrogênio: Enxofre de 10:1

Proteína Bruta

Enxofre

(%)

(%)

10

0.160

11

0.176

12

0.192

13

0.208

14

0.223

15

0.240

16

0.256

18

0.288

20

0.320

Fonte : Lisner, 1976(adaptado)

Quando suplementamos enxofre devemos considerar os minerais com ele inter-relacionados, em especial oMolibdênio e o Cobre.

Molibdênio e Cobre

Além da relação com o CobreoMolibdênioforma parte, ou ativa as enzimas que participam do catabolismo dos ácidos núcleicos, na redução do Ferro da forma férrica para ferrosa,e participa na redução de nitritos para nitratos.

Concentração sangüínea de Mo em ovinos e sua distribuição entre as células vermelhas e o plasma quando aumenta o consumo de Mo e Sulfato.

Consumo Dia Mo(g/100ml)

MO (mg)

Sulfato (mg)

Sangue

Eritrócito

%

0,5

1,7

95,00

17,80

71,6

50,0

1,7

968,00

56,10

21,5

50,0

7,2

68,40

16,60

4,5

Fonte: Silva, 1978 (adaptado por Ospina, 1998)

  • NRC ( 1985 ) recomenda um mínimo de 0,5 ppm de Mo.Concentrações menores tem sido encontradas em Rio Grande do Sul.

Níveis de S, Cu e Mo em pastagens de campo nativo do Rio Grande do Sul
Mineral

Época do Ano
(ppm)

Enxofre (%)

Cobre(ppm)

Molibdênio

Verão

0,10

6,0

0,25

Outono

0,10

4,0

 

Inverno

0,09

6,0

 

Primavera

0,09

5,0

0,32

Fonte: Carvalho e Trindade (1992), Gavillone Quadros (1966)

Osníveis acima de Se Mosão considerados muito baixos. Embora os níveis de Cu apresentem concentraçãobaixa ou atémarginal, deverá se ter muito cuidado caso se suplemente com minerais que contenham Cu, pois uma quantidade alta deste mineral, embora ainda que dentro das recomendações do NRC, poderácausar intoxicação crônica por Cu. Em outras regiões do Brasil onde existem concentrações de Mo acima de 3 ppm poderá causar deficiência de Cu, e até mortes caso Mo apresente teores acima de 7 ou 8 ppm. Mortes em ovinos por deficiência de Cu tem sido relatadas no nordeste brasileiro, onde a suplementação deste elemento se faz necessária.

Nestes casos é de máxima importância considerar as relações entre Cu e Mo para determinar o nível de suplementação adequado como o próprio NRC recomenda.

Intervalo Recomendado para Cobre

Intervalo de Cu recomendado

(mg/kg/MS da dieta)

Concentração de Mo na Dieta

 

 

 

(mg/kg)

 

 

 

 

Crescimento

Gestação

Lactação

< 1.0

8-10

9-11

7-8

> 3.0

17-21

19-23

14-17

Fonte: Suttle (1983)

As concentrações de Mo da dieta são deter, minantes da concentração de Cu a ser suplementada. Razão pela qualantes de eliminar a suplementação deste elemento, se faz necessário um maior conhecimento das concentrações doselementos relacionados com Cu da dieta, porque um excesso de Molibdêniopoderá induzir a hipocuprose (deficiência de cobre).


Níveis de Mo e Cu nas pastagens e sua relação com a presença de hipocuprose induzida
Concentração na pastagens
Cu (mg/kg MS)

Mo (mg/kg MS)

Bovinos

Ovinos

Situação

---------

3,0

3,0

Deficiência de Cu

2,0

9,0

5,0

Níveis adequados

5,0

9,0

5,0

Hipocuprose Induzida

5,0

12,0

7,0

Níveis adequados

7,0

12,0

7,0

Hipocuprose Induzida

7,0

18,0

12,0

Níveis adequados

Fonte: Adaptado de Grace (1989)

Outro aspecto a ser considerado é relativo ao solo. À medida que o pH do solo aumenta, a disponibilidade e uso de Ferro, Manganês, Zinco, Cobre e Cobalto pela planta decresce, enquanto as concentrações de Fósforo, Cálcio, Magnésio, Selênio e Molibdênio se elevam (McDowell & Conrad, 1977). A calagem, prática amplamente usada no correto manejo e reforma das pastagens, poderá acentuar umahipocuprose induzida por incremento da concentração de Mo na planta ao mesmo tempo que a concentração de Cu se reduz. Alguns criadores, bem como alguns técnicos não suplementam os animais com este elemento mineral, por medo da intoxicação crônica por Cobre. O medo se justifica, pois por ter usado alimentos (rações concentradas, cama de frangos, etc.) com altos níveis de Cobre,tem ocorrido mortes de animais. Por outro lado, a não suplementação de Cu em dietas pobres neste mineral tem sido relacionada como causa de mortes súbitas de ovinos em algumas regiões (Tokarnia, 1966) Riet-Correia, 2001). Nesta situação, não suplementar Cu, terceiro mineral mais deficiente após Na e P, se torna uma prática duvidosa, pois além de ocasionar perdas de produtividade, mantém os animais em situação de risco.

Nossa observação final, avaliando as informações anteriores, é que se faz imperioso suplementar todos os elementos minerais na dieta dos ovinos, atendendo por completo suas exigências, inclusive dos elementos Mo, S e Cu. No entanto, como indica o quadro acima, para realizar plenamente a suplementação reduzindo os fatores de risco, o ideal será utilizar diferentes fontes de elementos.

A Tortuga tem utilizado com sucesso a suplementação de Cobre na forma quelatada, associada à suplementação de Mo e S na forma iônica. Suplementar nas diferentes formas químicas não haverá interações com o Cu (se houver será mínima). Ao mesmo tempo, o Molibdênio e o Enxofre iônicos seqüestram possíveis excessos de Cobre iônico oriundo de outras fontes presentes na dieta por formação de tiomolibdato de Cobre, complexo insolúvel eliminado via fezes.

Referencias Bibliográficas

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